1 de mai. de 2009

Palavra e Poesia



Bloco 4

Por que escrever? Por diversas vezes nos fizemos esta mesma pergunta. Muitas foram as respostas, nenhuma, porém, satisfatória o suficiente para sanar nossos questionamentos e angústias.
No texto A palavra Mágica, Ernst Casirer afirma que a palavra não representa, ela é. “a Palavra se converte numa arquipotência, onde radica todo o ser e todo o conhecer”. Ela cria, constrói, destrói. Assim ocorre com o poema: o poema é. De uma concretude abstrata que por diversas vezes nos toca o íntimo, nos faz pensar, nos causa silêncio. Silêncio pesado de palavras que preenchem um espaço que nem sabíamos estar vazio.
Escrever se faz necessário por diversos motivos distintos, mas, sobretudo, porque há algo comum na essência humana que transborda em palavras.
Por isso, a palavra é.


A palavra,
Parte de uma fonte oculta
Escarafuncha a matéria da qual nasce
Infértil
A outra,
Metade indisposta
Gruda nas pregas do papel e funda
o anti-poema
A matéria inerte

Claudia Sarro



Não explica

Quero noites de
insônia constante.
Para destruir meu ego.
E achar a incógnita da consciência.

Grande questão cruel:
Porque é tão difícil ser?

No plano imaginário
procuro o resquício de resposta.
Infeliz ou sincera
mas que me faz ser
apenas um sonhador.
Tentando ser.

Carol Malaguti



INCIDÊNCIAS

A poesia me prende à vida
Como ao dono está preso o cão
Como a morte prende o suicida
Como o amor prende o coração

A vida me mostra a liberdade
Como liberto deve ser o povo
Como a criança na tenra idade
Como necessário é o desejo do novo

A liberdade me mostra o caminho
Por onde devem passar meus companheiros
Pois sem eles o poeta está sozinho
E o caminho se perde por inteiro

Pois caminho só existe
Se o povo por ele caminha
E a trilha ao tempo resiste
E a poesia nunca estará sozinha

Airton Mendes 05/2009



Quero escrever poemas
Mas há um cão em meu encalço
Ele saliva, com sua língua morna e ofegante
Sobre as estrofes, dormitando sonâmbulas, no fundo de um armário
Preciso escrever
Mas seus olhos perscrutam
Seus sentidos farejam
E aspiram para dentro de seu ventre mole
Qualquer sentença prenhe de sentido
Então ficamos assim, olhando-nos sem palavras
E o poema
expira

Cláudia Sarro



Duplo

Era como se o poema
se fizesse máscara
a cara de uma outra pessoa
quem sabe a de todas as pessoas
ou ao menos a de quem pudesse escrever
um poema como aquele
uma pessoa como eu
e que não deveriam ser muitas
visto o cada vez mais impessoal
de sua palavra.
Mas nada disso importava
o que importava era poder existir
e era como se o poema fosse meu corpo
fruto, espelho, tradução
um modo de vir à tona.

Júlio Versolato